Eleições em João Pessoa: intervenção no PT pode ter efeito bumerangue


Sérgio Botêlho
- O candidato do PSB, Ricardo Coutinho, pode até conseguir o tempo de rádio e TV do PT para a sua campanha à Prefeitura de João Pessoa. Mas, com a intervenção do diretório nacional petista sobre o diretório municipal pessoense, forçando a sigla, na capital paraibana, a acompanhar a candidatura socialista, ele vai ter problema extra durante o trecho. Além, é claro, das enormes e naturais dificuldades no enfrentamento aos demais adversários, na corrida eleitoral.

Entrevista

Acompanhamos, nesta quinta-feira, 17, entrevista concedida ao Correio Debate pelo deputado estadual Anísio Maia, que ainda se considera legítimo candidato do PT à prefeitura de João Pessoa. (Lembrando que se trata de um dos fundadores da legenda, com larga experiência política e relacionamento com os militantes petistas.) 

Na entrevista, foi possível observar a revolta com que Anísio está enfrentando a situação, bem como sua disposição em enfrentar Ricardo durante a campanha, seja ele (Anísio) candidato ou não.

É um problema enorme a ser encarado pelo candidato do PSB. O parlamentar petista aproveitou a entrevista para relatar o processo que resultou na escolha de seu nome pelos militantes do PT.

O debate no PT

Segundo o relato, esse processo envolveu as mais acreditadas lideranças do PT, a exemplo do presidente estadual da sigla, Jackson Macêdo, da presidente do PT na capital, Giucélia Figueiredo, do deputado federal Frei Anastácio, e do ex-deputado federal Luiz Couto. 

Essas lideranças, juntamente com filiados do partido, no estado inteiro, promoveram, segundo Anísio, inúmeras reuniões para, finalmente, apontarem seu nome como candidato petista à prefeitura pessoense. A decisão do Diretório Nacional do PT, agora, põe por terra todo esse rol de procedimentos que costumam, durante o processo, estabelecer uma liga muito forte entre seus participantes. E é justamente essa liga que Coutinho terá de entestar, a partir de agora.

Questionamentos

Conforme Anísio Maia, durante a campanha o PT pretende questionar frontalmente o candidato Ricardo Coutinho, que terá de se confrontar, ainda, com os ataques adversários. Isso, além de interpelações da mídia sobre os desdobramentos da Operação Calvário, de repercussão nacional, que chegou a prender o ex-governador, libertando-o sob a obrigação de usar tornozeleira. 

Diz o ditado que não é possível fazer omelete sem quebrar os ovos. Não sei se a máxima vai servir às pretensões de Ricardo Coutinho, ao provocar a intervenção. O temor de alguns socialistas é de que a omelete pretendida possa nunca chegar ao ponto. O problema, no caso da candidatura de Anísio, é de que a revolta esteja de tal maneira entranhada nos organismos internos do PT, não só pessoense, como paraibano, que o resultado favorável pretendido por Ricardo nunca se materialize. 

Estresse

Não apenas que o resultado positivo não apareça, como, afora essa decepção, represente, na verdade, um estresse muito grande e desnecessário para a campanha de Ricardo. Afinal, se o PT insistir mesmo na tese do confronto, será um partido inteiro, dentro do mesmo campo em que se coloca o candidato socialista, a desfiar seus defeitos, o que deve acrescentar ainda mais lenha na fogueira em que vão arder os debates entre os prefeitáveis em geral.

Sem falar na disputa judicial a ser gerada pelo modus operandi do PT nacional contra o PT pessoense, o que representará mais um fator de corrosão eleitoral na campanha do PSB. Segundo Anísio Maia, tão logo terminou a convenção, o partido tratou de registrar a ata no Tribunal Regional Eleitoral. E, por isso, Anísio vai, junto com o partido, na Paraíba, recorrer até a última instância pelo direito a concorrer ao pleito.

Os partidos

Na verdade, a estrutura partidária brasileira é muito vertical. Dessa forma, as decisões das instâncias superiores dos partidos têm preponderância sobre as deliberações das que estão mais abaixo. No entanto, cada caso é um caso, o que pode render reclamações sucessivas às diversas instâncias da Justiça. 

Talvez, conforme pensam alguns petistas, muito melhor caminho teria tomado Ricardo Coutinho se houvesse esgotado as conversas com o PT paraibano, diretamente, sem intermediários. Mas, ao rejeitar esse caminho, duro, difícil, mas altamente recomendável, pode ter buscado a desgraça eleitoral que logicamente não desejava, no pleito pessoense. 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gastos com saúde e educação podem ficar comprometidos

Apostando na esperança

Eleição em João Pessoa e o debate na Arapuan: Democracia foi garantida? Como andou o nível? Críticas e propostas foram consistentes?