Apostando na esperança


Sérgio Botêlho - Do ex-secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, que passou a vida adulta inteira (o homem tem 92 anos) defendendo o sistema político e econômico da América do Norte, e fustigando o comunismo, vem a recomendação ao presidente eleito dos EUA, Joe Biden: reate urgentemente as relações de parceria, as mais amplas possíveis, com a China. Motivo: evitar uma nova e autodestrutiva guerra mundial. Perigo que o atual presidente Donald Trump nunca respeitou, do alto de sua aversão ao multilateralismo e aos princípios mais elementares de convivência entre os povos.

A recomendação de Kissinger àquele que dirigirá os Estados Unidos nos próximos anos, tem, nele próprio, um exemplo. Em 1972, no auge da Guerra Fria, abriu os caminhos para que o ex-presidente republicano Richard Nixon viajasse à China de Mao Tse-tung e abrisse o diálogo entre os dois países. Se naquela época, há quase 50 anos, os chineses já representavam uma potência emergente de longo curso, hoje, mais ainda, uma vez que por várias fontes confiáveis o país asiático já é considerado como a maior economia do mundo.

Com efeito, o que os líderes e as cabeças pensantes internacionais mais apregoam, hoje em dia, diante do avanço do pensamento de extrema-direita, é a cooperação internacional. Afinal de contas, na hipótese de uma nova guerra mundial dificilmente a Terra escapará, por conta da grande evolução tecnológica dos armamentos à disposição de grande número de países. 

Enquanto isso, sob a liderança de Donald Trump, há um significativo número de novos líderes nacionais defendendo, de forma exaltada, propostas nacionalistas (muitas delas, como farsas, pois, efetivamente submissas) extremamente perigosas. É preciso lembrar que há uma inescapável coincidência entre as grandes guerras mundiais e a predominância de teses nacionalistas. Justamente por conta dessa coincidência é que a Europa evoluiu para a criação da União Europeia, erguida sob uma orientação mais globalista e cooperativa. Acrescida de medidas em favor de uma melhor distribuição de renda entre suas populações, o chamado bem-estar social europeu.

É preciso torcer para que sob o comando de Joe Biden e Kamala Harris (mulher que, certamente, terá um papel importante no futuro governo norte-americano) o mundo inaugure uma nova fase mais cooperativa entre as nações. Não se vislumbra saída possível para a sobrevivência da Terra e, por conseguinte, da humanidade, se não a que priorize o diálogo, o mais desarmado de opiniões pré-estabelecidas que seja possível. Com o complemento necessário de profundo respeito à democracia, à ciência, à educação, à diversidade, ao meio ambiente, à separação entre Igreja e Estado (com total liberdade religiosa), e à melhoria constante da distribuição de renda.

Essas providências, tão importantes, provavelmente têm que prevalecer, pois já estamos no limiar da necessidade, frente ao avanço das teses extremistas em curso, a partir do governo Trump. Falta pouco, muito pouco, para o estouro de um conflito internacional provocado pela intolerância, por um nacionalismo sem peias, pela negação da ciência, pela exaltação da ignorância, pela propagação de mentiras como se verdades fossem, pelo desrespeito às liberdades democráticas, pelas imensas desigualdades sociais, pelo racismo, pelo preconceito, enfim, por tudo o que depõe frontalmente contra o progresso econômico, social e humano.

Como uma das nações mais importantes do mundo, os Estados Unidos jogam papel importante nesse processo. Daí a esperança de que o próximo governo norte-americano jogue dentro dessas perspectivas, contribuindo, destarte, para a pacificação mundial. 

È certo que as condições objetivas são, no plano histórico, as que conduzem a humanidade. Contudo, é certo, também, que indivíduos podem atrasar ou adiantar o curso da história humana, no sentido da paz e do bem-estar geral. 

Dessa maneira, se Trump tem sido um importante elemento de atraso, que Biden seja um que represente o avanço. Influência o país tem na esfera internacional. E, por tal motivo é que se instala a esperança.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gastos com saúde e educação podem ficar comprometidos

Eleição em João Pessoa e o debate na Arapuan: Democracia foi garantida? Como andou o nível? Críticas e propostas foram consistentes?